Quem acompanha este blog há de
se lembrar de uma postagem antiga, sobre essas criaturinhas pusilânimes que
ululam e pululam na internet, chamadas “trolls”. Mais recentemente, outra publicação
sobre os “pobres de espírito”. Bem, pois considere esta publicação atual, fiel
leitor, como a terceira parte da saga.
Talvez eu já tenha mencionado aqui Theodore
Sturgeon, escritor de ficção científica falecido nos anos 80, autor dos
roteiros de episódios célebres de Star Trek (TOS), como “Shore Leave” e “Amok
Time”. Esse homem um dia pronunciou a preciosa frase que viria a ser imortalizada
como a “Lei de Sturgeon”. Segundo ele, no que se refere à indústria cultural, “noventa
por cento de tudo é lixo”.
Produtos culturais surgem de mentes humanas.
Seria um erro, entretanto, supor que, considerando os produtos finais, 90%
dessas mentes também sejam lixo. Qualquer mente criadora tem seus bons e maus
momentos, de acordo com a competência e a disposição da musa, mas ninguém é
100% feliz na criação. Alguns diriam que nem Deus acertou sempre, se pensarmos
nos dinossauros, nas baratas e no jiló. O problema é quando algumas mentezinhas
insistem em engrossar a fila pouco meritória dos 90%, e o fazem às vezes por
incompetência, mas na maioria das vezes por razões menos nobres ou
desculpáveis.
Aquela fatia do fandom (grupo de fãs que
adoram e discutem ficção científica, fantasia ou terror, e seus ambientes
herméticos de convivência) que lida com a literatura fantástica (aka “litfan”) é
composta, em sua maioria, por nerds. Não vou cair na tentação de dissecar aqui
os tipos de nerd, porque já existe neste blog um tópico sobre isso. Mas, de
qualquer forma, a visão que ordinariamente se tem de um nerd inclui, entre
outras coisas, sua índole reflexiva e pacífica. Não, esqueça Columbine e outras
distorções similares do Primeiro Mundo, vamos falar do “nerd normal”, se é que
existe isso. Somos, na maioria, doidos mansos. Eis porque encaro, a princípio
com perplexidade, a atual onda de agressividade orquestrada por um pequeno,
porém barulhento grupo de nerds, que se autonomearam “arautos da moral e da
qualidade” dentro da litfan (“moral” e “qualidade”, bem entendido, de acordo
com seu conceito, às vezes muito exclusivo e pessoal).
Há
pessoas, e aqui talvez possamos, sim, estabelecer um paralelo com Columbine,
que passam seus dias carregando as pressões das dificuldades econômicas, do
bullying, da frustração das próprias expectativas e desejos, e que extravasam tudo
isso por trás do volante de um carro, transformando-se em verdadeiros homicidas
em potencial sobre quatro rodas. Isso é muito comum. Não espere, porém, que
alguns nerds reajam da mesma forma, mesmo porque alguns nem possuem (ou
pretendem possuir) carro. Esse tipo peculiar de nerd age diferente, mas com o
mesmo efeito final: cria um blog e sai descendo sua borduna não convidada em
textos, e sobretudo em autores, que não façam parte de seu grupelho, que não se
importem com ele, ou simplesmente não sejam do agrado pessoal de um ou outro
desses pilares da decência de calças sujas. Dois sinais muito eloquentes podem
ser observados com frequência nesse tipo de blog, que denunciam claramente a má
intenção que move seus atores: o anonimato, recurso habitual dos covardes, e as
impiedosas críticas a detalhes, no caso de autores, que absolutamente nada têm
a ver com suas obras: defeitos físicos, peculiaridades comportamentais da vida
pessoal, etc. O objetivo, obviamente, é destruir, ofender, diminuir, ainda que
essas cabeças ocas depois repousem num travesseiro e se justifiquem, afirmando
serem “agitadores das coisas”. Grandes coisas...
Esses “nerds bárbaros”, ou “barbanerds”,
não percebem que depõem contra si mesmos (aqueles que têm a decência de se
identificarem, claro). Não são capazes de escapar de uma imagem de
incompetência (não sei fazer, então destruo), mau caráter (não gosto, então humilho)
ou pobreza de espírito (estou aqui para dizer umas verdades que ninguém diz). Verdades.
OK...rs*
Barbanerds nem sequer podem ser
considerados legítimos amantes da litfan, pois em sua miopia de entendimento
não percebem (ou pouco estão se lixando para) o fato de que estão prestando um
desserviço a um gênero que já sofre para conquistar seu espaço no ambiente
cultural brasileiro, sem precisar dessa gentinha promovendo a discórdia. Falta
paciência, falta tolerância, mas falta, acima de tudo, bondade e humildade
nessas pessoas, cuja sensação de triunfo, após um de seus ataques estúpidos, eu
duvido que dure mais que um dia ou dois, substituída por um provável amargor de
quem se sente uma pessoa ruim.
Algum deles vai acabar lendo estas linhas
e, com certeza, seus comentários a respeito serão algo como “essa panelinha
está desesperada com nossas humilhações sucessivas...KKKKKKK”, ou partirão para
ataques pessoais, proclamando a minha própria obtusidade, hipocrisia, ou alguma
outra idiotice semelhante. Aguardem. Espiem. Espero que não demore, para que os
fatos, mais que minhas insuficientes palavras, deem ao leitor a real medida do
quanto, como disse Sturgeon, 90% de tudo é lixo. Em algumas mentes pouco
favorecidas, parece chegar a 100%.