segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Song of Publishers and Writers























Saiba, ó Príncipe, que nos tempos antigos existiu um mundo onde escritores e editores se degladiavam em lados opostos de uma mesma guerra. De um lado, o autor apaixonado, puro fogo intelectual, tratando seu primeiro romance ("o primeiro de uma trilogia"...) como uma mãe coruja trata seu primogênito, aquele que um dia conquistará o mundo com as palavras. Do outro, o editor frio e calculista, sonhando com cifrões, olhando o mundo do alto de sua torre de vidro, sentindo-se o dono do mercado editorial como um Lex Luthor sem Superman.

Pelo menos essa era a imagem que eu tinha. Eu só não, que muitos de nós, aspirantes a atores no mercado editorial, tínhamos. Razões havia para isso. Eram incontáveis, e desesperadoramente comuns, as histórias sobre originais que eram enviados para editoras com a esperança da publicação, e que depois, sabia-se, iam parar em uma babélica pilha de papel por tempo indeterminado. Talvez infinito. O que para o escritor era a obra de uma vida, para o editor era "mais um". Depois de meses de angústia, alguns escritores recebiam a famigerada cartinha da editora: "Parabéns pela qualidade do seu texto, mas infelizmente..." É o equivalente editorial daquele fora que você já levou da colega de colégio, por quem você era perdidamente apaixonado, mas que gostava dos caras mais velhos: "Você é muito legal, e o problema não é com você, sou eu..." Outros não recebiam nem isso. Apenas o amargo silêncio.

Existia, sim, um abismo insuperável entre escritor e editor. Como não havia um diálogo direto, o terreno era fértil para especulações pessimistas e mal-humoradas. Fato inquestionável era que, se você não fosse escritor de pornografia, de revistinha pulp de faroeste e de menininhas, ou um fenômeno literário tipo Paul Rabbit (ainda em sua fase tupiniquim), a chance de publicar um livro no Brasil era mínima ou quase nenhuma. O editor era aquele cara que não queria publicar você. O escritor era aquele cara que devia aproveitar melhor seu tempo procurando um emprego decente.

Quando foi que a coisa mudou? E o quanto mudou realmente? Existe muita especulação em torno disso. Um argumento forte, com o qual concordo, foi a mudança do mercado. Filmes como a saga Star Wars atiçaram o gosto da meninada pelo fantástico, gênero que, para o público juvenil, estava afastado do cinema havia um bom tempo. Aqueles meninos cresceram, e seus filhos herdaram em boa parte o gosto pela ficção depretensiosa, não mais considerada alienante como ainda diziam seus avós mal humorados, escaldados pela Ditadura. Para a nova geração vieram novos filmes, como a saga de Harry Potter, Crepúsculo e Senhor dos Anéis, todas adaptações de obras literárias de sucesso no exterior. Ato contínuo, a atenção de muitos daqueles jovens cinéfilos voltou-se para os livros originais, que viraram best sellers também no Brasil. Estava criada a demanda.

Paralelamente, a internet transformou a aldeia global em um pequeno e apertado condomínio. Você sabia imediatamente o motivo da briga dos vizinhos por trás de paredes finas, e a fofoca se espalhava como a peste. Seus ídolos sagrados, seus desafetos e seus amigos estavam à distância de um clic.

Dessa nova geração, tecnológica, antenada e aficcionada (no caso da literatura de gênero), começam a surgir os novos editores. Aqueles que gostam de ler (porque mesmo nos velhos tempos não posso conceber um editor competente que não gostasse de ler...) e que veem no advento da tecnologia digital uma possibilidade economicamente viável de trabalharem com o que gostam. Esses estão por aí, acessíveis pela internet ou até pessoalmente. Como existem na literatura de gênero (e já são muitos, considerando...), acredito que existam também em outros nichos. Porém especulo se, no meio da literatura fantástica, esse fenômeno não esteja atingindo uma intensidade especial, já que vejo escritores que batalhavam nas fileiras do mainstream flertando com a prosa mais "metafórica".

Alguma coisa, é certo, não mudou: o escritor continua apaixonado. Caliente. Mãe coruja. O editor, embora mais audacioso, continua racional. Frio. Capitalista.

Quer se dar bem no mercado literário? Entenda algo desde já, pequeno sonhador: uma editora é uma empresa. Que visa o lucro. Se seu livro é seu xodozinho, para o editor ele é um produto de mercado. E pasme, isso não está errado! A partir do ponto em que você aceitar isso, a coisa começa a melhorar. Eu tenho aprendido muito em meus singelos embates com os editores. Depois que compreendi que ambos temos um objetivo em comum, fiquei mais razoável. Esse objetivo em comum é o leitor!

Braulio Tavares, um dos gurus de boa parte de nós, jovens escritores (estou falando de tempo de teclado, não de idade...) escreveu em um artigo que: "O leitor é a mãe do escritor, e o crítico é o pai". Perfeito. O que você espera do leitor é que ele, através do seu livro, te coloque no colo, te afague, diga o quanto você é lindo. Você quer sua aprovação e seu afeto. Quanto ao crítico, você até o desdenha, mantém uma distância prudente, mas intimamente o respeita e está, lá no fundo, ansiando por sua aprovação. O editor é o cara capaz, pelo seu conhecimento e postura técnicos, de tornar seu livro autoral palatável e atraente para alcançar isso!

Claro que a falta de paixão dele também é um defeito, que você não tem. Quando o editor não "sente" sua obra, é preciso que você seja eloquente para fazer com que ele, pelo menos, entenda seu ponto de vista. E felizmente, o grande diferencial que a nova realidade do mercado editorial trouxe em relação à Idade das Trevas foi o diálogo.

Tenho percebido que, quando nem meu editor e nem eu também estamos 100% satisfeitos, a coisa chega ao ponto ideal. Significa que você cedeu aos argumentos racionais dele, e ele também cedeu a sua visão onírica.

Fato é que, pensando e agindo dentro dessa linha, percebo que estou me tornando um escritor melhor. Pelo menos é assim que eu vejo.

2 comentários:

  1. Eu sempre pensei feliz de quem mora numa cidade grande, onde as editoras ou prestadoras de srviços editoriais estão perto. Uma alternativa que penso ser viável é o próprio autor fazer o trabalho e bancar a impressão. Penso em fazer isso, embora more numa cidade pequena e as pessoas daqui, e o governo não dão a mínima importância. Decidi recentemente publicar os trabalhos mais velhos, com cerca de dez anos em sites como o Recanto das Letras e num blog que recém fiz. Decidi que uma boa alternativa seria publicar os contos de menos importância, mais infantis sob a licensa de uso geral- Creative Commons- e tentar distribuir para conhecidos e estranhos por downloads grátis. Moro em Muçum, RS. Siga o blog e acompanhe:
    http://universofantasticodeijsantim.blogspot.com
    http://recantodasletras.com.br/autores/itacirsantim

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  2. Para começar é um caminho bastante válido, Santim. Se verificar em um post anterior, relato como meu primeiro romance foi inteiramente bancado por mim, e por que isso foi importante. A internet também é um caminho promissor que se abre, e gente boa tem sido reconhecida a partir desse veículo, mas a meu ver, do jeito que a coisa anda hoje, a qualidade é mascarada pela quantidade, a não ser que você pretenda alcançar círculos menos amplos (amigos e conhecidos). Porém, repetindo, é mais um caminho que se abre, tão digno quanto os demais. Abraço.

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