
A
histeria é uma doença psiquiátrica já consagrada nos anais da medicina.
Manifesta-se através de duas grandes vertentes de sinais e sintomas: os de
ordem psicossomática e os distúrbios psicoemocionais. A medicina tradicional
tem se concentrado nas manifestações mais “exuberantes” da doença, como
convulsões, desmaios e perda de memória. Até cegueira e surdez são
manifestações recorrentes. Entretanto, existe outra vertente de sinais que,
talvez por sua menor repercussão nas atividades diárias do indivíduo, tem sido
relegada a segundo plano. O histérico tem uma forte tendência a ser o centro
das atenções. É expert em manipular
ou confundir a realidade e teatralizar os conflitos. Reage às pessoas e
situações com grandes arroubos emocionais caricatos, muitas vezes buscando
evocar a compaixão alheia. Não sabe bem
o que quer. Guia-se mais por intuições e impressões repentinas do que por
juízos serenos e bem fundamentados. Você deve estar aí, se lembrado de alguém
que conhece, e que se enquadra pelo menos parcialmente nessa descrição. Se é
usuário das redes sociais, mais ainda...
Para compreender o sentido deste artigo você
precisa conhecer, também, o SJW (Social Justice Warrior). Esse personagem, batizado
nos embates ideológicos americanos, é a arma de destruição em massa predileta
da ideologia esquerdista. No jogo do xadrez ideológico, o SJW é o peão: pouco
importante, sacrificável, limitado, mas que procura assumir uma aparência de
relevância graças ao elevado número de indivíduos que compõe a hoste. O SJW é o
defensor incondicional das minorias e dos “discriminados”; entrará, em nome
destes, em brigas que não são suas com um vigor notável, transformando cada
contenda em algo pessoal. Muitas vezes inventará histórias (apelidadas de “fanfiction”)
para causar uma impressão de realidade no que se refere a teorias e conceitos
que só ele é capaz de admitir. Pela causa, tudo vale. Será intenso, emotivo. Repetirá,
usando os números do bando, uma falácia estapafúrdia tantas vezes que ela
começará a ser familiar ao ouvido, e adquirir uma perigosa aparência de
verdade. Seu critério normalmente é marcado por uma flagrante incoerência: um
fato, uma atitude, quando serve a nossa causa é de valor, é lícito; caso
contrário, será execrado impiedosamente. Reconheceu? Exatamente! O SJW tem uma
elevada propensão à histeria, o que faz dele o peão ideal no tabuleiro de xadrez
da ideologia de esquerda.
Nesta semana, ganhou as redes sociais a
imagem (reproduzida acima) de um grupo de estudantes (masculinos) de Medicina,
de jaleco, posando para a foto de calças arriadas, fazendo com as mãos um sinal
que, entre outras interpretações, simboliza uma vagina. Simultaneamente, surgiu
uma foto semelhante de outra faculdade médica, só que desta vez mostrando
estudantes do sexo feminino em atitude idêntica. Caso você se dê ao trabalho de
pesquisar, vai descobrir que esse tipo de coisa não é novidade. É uma espécie
de “piada interna” dos alunos de algumas instituições de ensino de Medicina,
que se repete há anos. A diferença, agora, é que as fotos caíram nas redes
sociais. E as redes sociais são, hoje em dia, o campo de caça predileto dos
SJW.
As manifestações na rede foram assustadoras,
surpreendentes, por não serem, na maioria das vezes, frutos de “juízos serenos
e bem fundamentados”. Logicamente, esse tipo de arroubo emocional encontra eco,
com facilidade, na ignorância (no bom sentido de falta do conhecimento) e no
temor.
Em resumo, os tais alunos foram
instantaneamente promovidos a médicos ou, segundo muitos, a “ginecologistas”,
sem precisarem sequer esperar pela colação de grau ou sofrerem as agruras de
uma penosa residência de Ginecologia e Obstetrícia. A pose desrespeitosa seria
uma “apologia ao estupro”. Logo pipocam nas redes os “testemunhos” de pessoas
que teriam sido vítimas de tentativa de abuso sexual por parte de profissionais
médicos, e o clima passa a ser de pânico: “Ah, meu Deus, o que será de mim
agora, não se pode confiar nessa pérfida categoria profissional!” Observe a
escalada do absurdo. Como fogo em mato seco, é evidente que contribui para
isso, aparte da má intenção e da histeria ambiente, ansiosas por se
manifestarem, outra característica deplorável das redes sociais: o
descompromisso e a irresponsabilidade para com a imagem e o conceito alheios, a
insensibilidade, a atitude inconsequente quanto ao dano que palavras mal direcionadas
podem causar nas vidas de gente inocente. Isso caracteriza as discussões nas
redes sociais com elevada frequência, e é um meio de cultura fértil quando
explorado por aqueles de má intenção.
Caso você conseguisse se livrar de tudo
isso, que já tomou o ambiente virtual de forma instantânea e inescapável como
uma espécie de “ditadura da histeria”, poderia avaliar o caso nas dimensões que
realmente tem. Poderia avaliar que, mesmo sendo uma brincadeira de estudantes,
tratou-se de um ato altamente reprovável em termos éticos. Nenhum médico ou
estudante tem o direito de expor negativamente sua categoria profissional.
Sobretudo hoje (e voltaremos a isso), quando a categoria médica é vítima de uma
campanha orquestrada de difamação por parte, inclusive, do poder constituído, a
proteção da ética médica, e da relação do profissional com o paciente, deveriam
ser invioláveis. Uma atitude assim, inconsequente, irresponsável, é inaceitável
em alunos quase-formandos. Poderia se discutir como as universidades têm focado
excessivamente na formação técnica, pela própria pressão do mercado, e
negligenciado em relação à formação ética dos futuros médicos. Tudo isso
PODERIA ter sido. Enquanto as discussões focalizam a imbecilidade galopante da “apologia
ao estupro”, não se chegará, em termos práticos, do nada ao lugar nenhum.
Curiosamente, a fotografia das moças de
calças arriadas é escrupulosamente ignorada pelos SJW. É assombrosamente
patético como, enquanto a foto “masculina” significa uma apologia ao estupro, a
foto “feminina”, que para um juízo sensato é absolutamente igual, se transforma
no máximo em um símbolo de “empoderamento feminino”. Pode rir, leitor, antes
que seja obrigado a ouvir o clássico e previsível “meu corpo, minhas regras”.
Quanto à falta de conhecimento, que leva
ao temor, essa fantasia negativa que sorrateiramente se joga sobre o médico
ginecologista ganha força nesse ambiente de insanidade histérica. Nesse
microambiente viciado, onde proliferam os testemunhos de abuso sexual e o
fanfiction, a insegurança quanto à confiabilidade do profissional ganha corpo.
Mas... Vamos a dados concretos?
Um estudo realizado pela USP em 2015 (http://www.usp.br/agen/wp-content/uploads/DemografiaMedica30nov2015.pdf)
revela que, dentre as especialidades médicas, a ginecologia ocupa o quarto
lugar em número de profissionais, com mais de 28.000 indivíduos. A média de
idade dentro da especialidade é de 49 anos, e 53% desses profissionais
pertencem ao sexo feminino. Não é preciso ir muito longe para entender que, na
frieza dos dados estatísticos, usar uma foto de estudantes cabeças-de-bagre
para demonizar toda uma categoria profissional é algo simplesmente absurdo. É
inquestionável que em todo tipo de profissão existem os de mau-caráter. A
Medicina não é exceção. No entanto, a despeito dos casos que, por sua mesma
excepcionalidade, ganham as manchetes dos jornais, como os Roger Abdelmassih da
vida, ainda que se considerem os casos verdadeiros de subnotificação que
caracterizam esse tipo de abuso, estamos falando de um universo ínfimo,
minúsculo, dentro do cenário global. Repetimos: longe de subestimar a
importância desses casos deploráveis, consideramos que só uma avaliação
realista dos mesmos pode conduzir a uma análise e a medidas eficazes, efetivas,
para seu combate.
Mas a quem interessa isso? Uma eventual
campanha deliberada de difamação da classe médica não seria uma avaliação “histérica”
de minha parte?
Em
2014, o governo federal do PT lançou o Programa Mais Médicos. Segundo as
justificativas explícitas para esse programa, afirmava o governo que o caos da
saúde no Brasil era responsabilidade da classe médica: o médico brasileiro se
recusava a ir para as áreas desassistidas do interior do Brasil; só pensando em
dinheiro, o médico brasileiro, diziam muitos, tinha “nojo de pegar em pobre”.
Portanto, caberia ao governo trazer 13.000 “médicos” cubanos para atender a
essa população carente e abandonada, a R$10.000,00/mês por cabeça. Demais está
repetir aqui o que eu e outros tratamos em vários artigos, revelando esse golpe
sujo, canalha, de lavagem de dinheiro do PT para a eleição de 2014; demais estaria
agora discorrer sobre como a maioria dos cubanos sequer eram médicos de
verdade, como a maioria deles permaneceu (até hoje) nas proximidades dos
grandes centros, deixando os sertões ainda desprovidos, uma vez que hoje, com o
PT desmascarado e destronado e sua ferramenta Odebrecht enquadrada, a “casa
caiu” e o próprio Programa acaba de ser cancelado. Entretanto, a mão-de-obra
fácil e barata dos SJW não poderia ser desperdiçada, ainda mais se sua
ideologia gramscista tem como princípio básico substituir as elites intelectuais
do país por agentes infiltrados. Se você achava que o projeto morreu com o fim
do Mais Médicos, tome como exemplo o artigo de Renato Rovai, publicado em
11/4/17 na revista “Forum”, tradicional e conhecido veículo de infiltração
esquerdista. O título: “A imbecilidade dos médicos está se tornando insuperável
e insuportável”.
Eliminando qualquer hipótese de falta de
intencionalidade, o articulista começa fazendo uma afirmação categórica: “Generalização
é sempre algo bestial. Por isso, adianto, não quero generalizar aqui.” Segue
uma fotografia dos infelizes alunos de calças arriadas, e então o artigo se
limita a um discurso de ódio direcionado à classe médica como um todo: um bando
de idiotas que se arvoram em uma casta especial; que acredita que pode tudo,
incluindo todos os tipos de desrespeito aos direitos humanos; a categoria mais difícil
para lidar; fraudadores; corporativistas; desumanos e irresponsáveis; filhinhos
de papai que só pensam em dinheiro; corruptos; e claro, esses são a regra, e
não a exceção. Apresentar provas, como caberia a qualquer acusador com um pingo
de honestidade? Ele simplesmente recomenda que o leitor recorra ao “Google”, e
à “enorme quantidade de artigos” que comprovariam suas palavras covardes e
mentirosas. Citei apenas alguns exemplos do discurso sujo da esquerda
tupiniquim estampados nesse artigo, e em nenhum momento, por mais que procure, você
encontrará qualquer conexão dele com o episódio retratado na famigerada
fotografia, que supostamente seria o assunto principal. Até o famigerado “Marcos
do BBB”, que foi excluído do reality show global após um questionável episódio
de agressão contra sua “ficante” (mereceria outro artigo), é citado nesse artigo
deplorável como o avatar de um típico “cirurgião plástico”, ainda que seus atos
em nenhum momento tenham qualquer, nem de longe, relação com sua profissão.
Desnudada assim, essa situação absurda,
potencializada pela ditadura histérica das redes sociais, pode parecer ridícula,
inacreditável até. No entanto, caso você não seja um habitué, experimente dar uma espiada nessa insanidade explicitada
no Facebook. Apenas, antes, um conselho médico: vá preparado, vacine-se com um
pouquinho de atenção e bom senso. Existe uma legião de SJW que fazem a moderna
medicina desconfiar de que a estupidez, assim como a histeria, são contagiosas.