quinta-feira, 13 de abril de 2017

A DITADURA DA HISTERIA











A histeria é uma doença psiquiátrica já consagrada nos anais da medicina. Manifesta-se através de duas grandes vertentes de sinais e sintomas: os de ordem psicossomática e os distúrbios psicoemocionais. A medicina tradicional tem se concentrado nas manifestações mais “exuberantes” da doença, como convulsões, desmaios e perda de memória. Até cegueira e surdez são manifestações recorrentes. Entretanto, existe outra vertente de sinais que, talvez por sua menor repercussão nas atividades diárias do indivíduo, tem sido relegada a segundo plano. O histérico tem uma forte tendência a ser o centro das atenções. É expert em manipular ou confundir a realidade e teatralizar os conflitos. Reage às pessoas e situações com grandes arroubos emocionais caricatos, muitas vezes buscando evocar a compaixão alheia.  Não sabe bem o que quer. Guia-se mais por intuições e impressões repentinas do que por juízos serenos e bem fundamentados. Você deve estar aí, se lembrado de alguém que conhece, e que se enquadra pelo menos parcialmente nessa descrição. Se é usuário das redes sociais, mais ainda...
     Para compreender o sentido deste artigo você precisa conhecer, também, o SJW (Social Justice Warrior). Esse personagem, batizado nos embates ideológicos americanos, é a arma de destruição em massa predileta da ideologia esquerdista. No jogo do xadrez ideológico, o SJW é o peão: pouco importante, sacrificável, limitado, mas que procura assumir uma aparência de relevância graças ao elevado número de indivíduos que compõe a hoste. O SJW é o defensor incondicional das minorias e dos “discriminados”; entrará, em nome destes, em brigas que não são suas com um vigor notável, transformando cada contenda em algo pessoal. Muitas vezes inventará histórias (apelidadas de “fanfiction”) para causar uma impressão de realidade no que se refere a teorias e conceitos que só ele é capaz de admitir. Pela causa, tudo vale. Será intenso, emotivo. Repetirá, usando os números do bando, uma falácia estapafúrdia tantas vezes que ela começará a ser familiar ao ouvido, e adquirir uma perigosa aparência de verdade. Seu critério normalmente é marcado por uma flagrante incoerência: um fato, uma atitude, quando serve a nossa causa é de valor, é lícito; caso contrário, será execrado impiedosamente. Reconheceu? Exatamente! O SJW tem uma elevada propensão à histeria, o que faz dele o peão ideal no tabuleiro de xadrez da ideologia de esquerda.
     Nesta semana, ganhou as redes sociais a imagem (reproduzida acima) de um grupo de estudantes (masculinos) de Medicina, de jaleco, posando para a foto de calças arriadas, fazendo com as mãos um sinal que, entre outras interpretações, simboliza uma vagina. Simultaneamente, surgiu uma foto semelhante de outra faculdade médica, só que desta vez mostrando estudantes do sexo feminino em atitude idêntica. Caso você se dê ao trabalho de pesquisar, vai descobrir que esse tipo de coisa não é novidade. É uma espécie de “piada interna” dos alunos de algumas instituições de ensino de Medicina, que se repete há anos. A diferença, agora, é que as fotos caíram nas redes sociais. E as redes sociais são, hoje em dia, o campo de caça predileto dos SJW.
     As manifestações na rede foram assustadoras, surpreendentes, por não serem, na maioria das vezes, frutos de “juízos serenos e bem fundamentados”. Logicamente, esse tipo de arroubo emocional encontra eco, com facilidade, na ignorância (no bom sentido de falta do conhecimento) e no temor.
     Em resumo, os tais alunos foram instantaneamente promovidos a médicos ou, segundo muitos, a “ginecologistas”, sem precisarem sequer esperar pela colação de grau ou sofrerem as agruras de uma penosa residência de Ginecologia e Obstetrícia. A pose desrespeitosa seria uma “apologia ao estupro”. Logo pipocam nas redes os “testemunhos” de pessoas que teriam sido vítimas de tentativa de abuso sexual por parte de profissionais médicos, e o clima passa a ser de pânico: “Ah, meu Deus, o que será de mim agora, não se pode confiar nessa pérfida categoria profissional!” Observe a escalada do absurdo. Como fogo em mato seco, é evidente que contribui para isso, aparte da má intenção e da histeria ambiente, ansiosas por se manifestarem, outra característica deplorável das redes sociais: o descompromisso e a irresponsabilidade para com a imagem e o conceito alheios, a insensibilidade, a atitude inconsequente quanto ao dano que palavras mal direcionadas podem causar nas vidas de gente inocente. Isso caracteriza as discussões nas redes sociais com elevada frequência, e é um meio de cultura fértil quando explorado por aqueles de má intenção.
     Caso você conseguisse se livrar de tudo isso, que já tomou o ambiente virtual de forma instantânea e inescapável como uma espécie de “ditadura da histeria”, poderia avaliar o caso nas dimensões que realmente tem. Poderia avaliar que, mesmo sendo uma brincadeira de estudantes, tratou-se de um ato altamente reprovável em termos éticos. Nenhum médico ou estudante tem o direito de expor negativamente sua categoria profissional. Sobretudo hoje (e voltaremos a isso), quando a categoria médica é vítima de uma campanha orquestrada de difamação por parte, inclusive, do poder constituído, a proteção da ética médica, e da relação do profissional com o paciente, deveriam ser invioláveis. Uma atitude assim, inconsequente, irresponsável, é inaceitável em alunos quase-formandos. Poderia se discutir como as universidades têm focado excessivamente na formação técnica, pela própria pressão do mercado, e negligenciado em relação à formação ética dos futuros médicos. Tudo isso PODERIA ter sido. Enquanto as discussões focalizam a imbecilidade galopante da “apologia ao estupro”, não se chegará, em termos práticos, do nada ao lugar nenhum.
     Curiosamente, a fotografia das moças de calças arriadas é escrupulosamente ignorada pelos SJW. É assombrosamente patético como, enquanto a foto “masculina” significa uma apologia ao estupro, a foto “feminina”, que para um juízo sensato é absolutamente igual, se transforma no máximo em um símbolo de “empoderamento feminino”. Pode rir, leitor, antes que seja obrigado a ouvir o clássico e previsível “meu corpo, minhas regras”.
     Quanto à falta de conhecimento, que leva ao temor, essa fantasia negativa que sorrateiramente se joga sobre o médico ginecologista ganha força nesse ambiente de insanidade histérica. Nesse microambiente viciado, onde proliferam os testemunhos de abuso sexual e o fanfiction, a insegurança quanto à confiabilidade do profissional ganha corpo. Mas... Vamos a dados concretos?
     Um estudo realizado pela USP em 2015 (http://www.usp.br/agen/wp-content/uploads/DemografiaMedica30nov2015.pdf) revela que, dentre as especialidades médicas, a ginecologia ocupa o quarto lugar em número de profissionais, com mais de 28.000 indivíduos. A média de idade dentro da especialidade é de 49 anos, e 53% desses profissionais pertencem ao sexo feminino. Não é preciso ir muito longe para entender que, na frieza dos dados estatísticos, usar uma foto de estudantes cabeças-de-bagre para demonizar toda uma categoria profissional é algo simplesmente absurdo. É inquestionável que em todo tipo de profissão existem os de mau-caráter. A Medicina não é exceção. No entanto, a despeito dos casos que, por sua mesma excepcionalidade, ganham as manchetes dos jornais, como os Roger Abdelmassih da vida, ainda que se considerem os casos verdadeiros de subnotificação que caracterizam esse tipo de abuso, estamos falando de um universo ínfimo, minúsculo, dentro do cenário global. Repetimos: longe de subestimar a importância desses casos deploráveis, consideramos que só uma avaliação realista dos mesmos pode conduzir a uma análise e a medidas eficazes, efetivas, para seu combate.
     Mas a quem interessa isso? Uma eventual campanha deliberada de difamação da classe médica não seria uma avaliação “histérica” de minha parte?
     Em 2014, o governo federal do PT lançou o Programa Mais Médicos. Segundo as justificativas explícitas para esse programa, afirmava o governo que o caos da saúde no Brasil era responsabilidade da classe médica: o médico brasileiro se recusava a ir para as áreas desassistidas do interior do Brasil; só pensando em dinheiro, o médico brasileiro, diziam muitos, tinha “nojo de pegar em pobre”. Portanto, caberia ao governo trazer 13.000 “médicos” cubanos para atender a essa população carente e abandonada, a R$10.000,00/mês por cabeça. Demais está repetir aqui o que eu e outros tratamos em vários artigos, revelando esse golpe sujo, canalha, de lavagem de dinheiro do PT para a eleição de 2014; demais estaria agora discorrer sobre como a maioria dos cubanos sequer eram médicos de verdade, como a maioria deles permaneceu (até hoje) nas proximidades dos grandes centros, deixando os sertões ainda desprovidos, uma vez que hoje, com o PT desmascarado e destronado e sua ferramenta Odebrecht enquadrada, a “casa caiu” e o próprio Programa acaba de ser cancelado. Entretanto, a mão-de-obra fácil e barata dos SJW não poderia ser desperdiçada, ainda mais se sua ideologia gramscista tem como princípio básico substituir as elites intelectuais do país por agentes infiltrados. Se você achava que o projeto morreu com o fim do Mais Médicos, tome como exemplo o artigo de Renato Rovai, publicado em 11/4/17 na revista “Forum”, tradicional e conhecido veículo de infiltração esquerdista. O título: “A imbecilidade dos médicos está se tornando insuperável e insuportável”.
     Eliminando qualquer hipótese de falta de intencionalidade, o articulista começa fazendo uma afirmação categórica: “Generalização é sempre algo bestial. Por isso, adianto, não quero generalizar aqui.” Segue uma fotografia dos infelizes alunos de calças arriadas, e então o artigo se limita a um discurso de ódio direcionado à classe médica como um todo: um bando de idiotas que se arvoram em uma casta especial; que acredita que pode tudo, incluindo todos os tipos de desrespeito aos direitos humanos; a categoria mais difícil para lidar; fraudadores; corporativistas; desumanos e irresponsáveis; filhinhos de papai que só pensam em dinheiro; corruptos; e claro, esses são a regra, e não a exceção. Apresentar provas, como caberia a qualquer acusador com um pingo de honestidade? Ele simplesmente recomenda que o leitor recorra ao “Google”, e à “enorme quantidade de artigos” que comprovariam suas palavras covardes e mentirosas. Citei apenas alguns exemplos do discurso sujo da esquerda tupiniquim estampados nesse artigo, e em nenhum momento, por mais que procure, você encontrará qualquer conexão dele com o episódio retratado na famigerada fotografia, que supostamente seria o assunto principal. Até o famigerado “Marcos do BBB”, que foi excluído do reality show global após um questionável episódio de agressão contra sua “ficante” (mereceria outro artigo), é citado nesse artigo deplorável como o avatar de um típico “cirurgião plástico”, ainda que seus atos em nenhum momento tenham qualquer, nem de longe, relação com sua profissão.

     Desnudada assim, essa situação absurda, potencializada pela ditadura histérica das redes sociais, pode parecer ridícula, inacreditável até. No entanto, caso você não seja um habitué, experimente dar uma espiada nessa insanidade explicitada no Facebook. Apenas, antes, um conselho médico: vá preparado, vacine-se com um pouquinho de atenção e bom senso. Existe uma legião de SJW que fazem a moderna medicina desconfiar de que a estupidez, assim como a histeria, são contagiosas.

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