segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vindos de Outra Dimensão

Vocês estavam achando que este é um post sobre ficção científica. Lamento decepcioná-los. Mas não fechem a janela ainda, porque pelo fato de não ser ficção, o assunto é ainda mais interessante!
Outro dia o Flamengo foi eliminado, na Copa do Brasil, pelo modesto time do Ceará. Uma jovem carioca, indignada, postou no Twitter comentários altamente ofensivos à (palavras dela...) "subraça dos bugres nordestinos". Diante da saraivada de protestos, e inclusive de ameaças sérias pela conduta racista, a moça apagou os posts, pediu mil desculpas e prometeu se afastar do Twitter por um tempo, tal era sua vergonha (sic). Disse algo do tipo: "não sei o que deu em mim, não tenho nada contra os nordestinos, falei por causa do Flamengo".
Você vai dizer: "Arrependida uma ova, ela ficou foi com medo das consquências. Se não queria dizer, por que disse?" Pode até ser. Mas suponha que seja verdade. Por exemplo, olhe para sua própria vida. Quantas vezes você não disse palavras a estranhos, ou pior, a seres queridos, que nada tinham a ver com o que você realmente pensa ou sente a respeito deles. Quantas vezes não experimentou a dor do arrependimento sincero por ter dito algo por impulso, que muitas vezes não combina com o que você é ou com o que pensa? É minha vez de perguntar: se não queria dizer, por que disse?
Algo tem que estar por trás disso. Algo que não é a própria vontade (sua porta-voz autorizada), mas que "toma as rédeas" e te faz agir em um rumo - bom ou ruim - que você não endoçou. Um pirata psicológico!
Você certamente conhece uma ou duas boas teorias para explicar isso. Bem, vou te apresentar mais uma. Pense a respeito. Concorde ou discorde. Mas, pelo menos, considere a seriedade da coisa...
Existe uma outra dimensão paralela ao nosso espaço quadridimensional. Nem tão paralela, porque ela interpenetra e influencia poderosamente esse mundo percebido por nossos sentidos físicos. Essa dimensão também tem habitantes. Eles nascem, crescem, se reproduzem e se movimentam completamente independentes de nossa vontade ou percepção. E o mais importante: de seu ambiente natural, que usam para se mover, se alimentar e se reproduzir, faz parte a sua mente! Vamos chamar essas entidades vivas e autônomas de "pensamentos".
Você é capaz de criar pensamentos. Para criar este post, tudo começou com um pensamento: "vou criar um post sobre pensamentos". Daí resolvi colocar o pensamento em prática e dar-lhe vida, assim organizei as ideias e comecei a prática da coisa. O resultado final, que você está lendo, é nada mais que a materialização do pensamento inicial. Mas o objetivo aqui é falar de outra classe de pensamentos: aqueles alheios à própria vontade. Aqueles que saltam de mente em mente, gerando filhos que se juntam muitas vezes, formando um verdadeiro "ambiente mental".
Você está sentado no auditório daquela palestra chata. Tem uma gatinha sentada do seu lado. Você puxa papo, e a conversa rende. Lá pelas tantas, alguém bate palmas. Você não está ouvindo nada da palestra. Você nem imagina (e não dá a mínima) para o que o palestrante falou. No entanto, você... bate palmas! Ele pode estar ofendendo sua mãe, mas você bate palmas! Pensamentos assim se alastram como fogo em capim seco. Não dependem da sua vontade, saltando de mente para mente, para se reproduzirem. O problema é que bater palmas, na maioria das vezes, é algo muito simples e sem maiores consequências...
Há pouco tempo atrás a imprensa noticiou, em BH, um verdadeiro massacre ocorrido no campus de uma universidade contra uma população de gatos vadios. O que mais chocou foi a barbárie: vários animais escalpelados, com a pele arrancada do corpo ou com as cabeças cortadas com tesouras. Passa o tempo, e mais histórias semelhantes pipocam em toda parte. A última foi ontem quando, em alguma cidade que não a minha, alguém colocou veneno num reservatório próximo a um zoo, que as pessoas usavam para alimentar gatos locais. Morreram vários felinos, um cão, e uma tribo oportunista de gambás incautos. Hoje o jornal me acorda com a notícia de que, em um bairro de BH, alguém deu uma garrafa de cachaça para um grupo de oito mendigos. Misturado na cachaça havia "chumbinho" (veneno para ratos). Mais uma vez foi obra de um covarde anônimo, pois é bem sabido que "filho feio não tem pai".
O pensamento de eliminar (sim, ceifar a vida!) de grupos que você desaprova ou que te incomodam não é novo. Hitler chamou-o de "solução final", e esse pensamento rendeu uma prole grande e complexa, gerando uma verdadeira rede de estabelecimentos e logística, objetivando a morte em larga escala, organizada e eficaz, de grupos populacionais.
Alguém protestará e dirá: "Ah, mas gatos não são gente, é muito diferente!" Amigos, o embrião da violência é o mesmo. O desrespeito à vida, e a presunção do direito que se tem de arbitrar sobre sua continuidade ou não, começa com os seres "inferiores", no caso os gatos, e em BH já está crescendo e atingindo os seres humanos considerados mais "inferiores", os mendigos. Para a "raça inferior" é um pulo.
Faz algum tempo que a imprensa praticamente parou de noticiar tentativas (bem sucedidas ou não) de autoextermínio. Perceberam que, noticiado um fato desse e a comoção que dele derivava, alguns outros casos semelhantes se seguiam. Empiricamente, a imprensa percebeu que pensamentos também se transmitem pelas ondas da TV, do rádio e do papel-jornal. Como os virus, se aproveitam oportunisticamente das mentes mais indefesas para se instalarem e causarem estragos.
A menina que chamou os nordestinos de "subraça de bugres", ainda que não pretendesse jamais encarcerá-los num campo de concentração (tenho certeza disso), ouviu comentários assim em algum lugar. Provavelmente em uma situação inócua: a indignação de um amigo em uma mesa de bar, uma revolta contra um flanelinha... Alguém exclamou "maldito paraíba", e na mente suscetível daquela moça plantou-se uma semente. Quando o time do coração sofreu tamanha humilhação, o pensamento viu a oportunidade ideal para ganhar corpo, e foi vomitado no Twitter inadvertidamente. Se houvesse pensado, mesmo que por puro medo das consequências, ela não postaria.
Assassinos de gatos e de mendigos escondem sua identidade porque sabem, ainda que de maneira instintiva, que uma vez cumprido seu objetivo, o pensamento se retira. Sobra seu fantoche, seu instrumento, aquele que deixou que ele se manifestasse. Esse é o que sofre as consequências, sejam quais forem.
Como uma jovem twitteira indignada, você também pode, num momento de inadvertência, ser veículo de um pensamento que tem uma índole completamente oposta a suas convicções. Basta subestimá-lo, e não ter a devida consciência dele.
Transformei essa realidade em alegoria em meu segundo romance, Casas de Vampiro (ESTE sim, é FC!), criando entidades que habitam essa dimensão mental, mas que são capazes de se integrar a seres biológicos para... OK, OK, sem spoiler! Vá lá e leia, poxa!
Fato é que os pensamentos são reais. Estão aí o tempo todo. São tão palpáveis pelas mãos do entendimento como objetos materiais são pelas mãos físicas. Ou pode ser outra a explicação, e isso tudo não tem nada a ver. Você é quem decide.
Porque (aqui vai um segredo) pensamentos podem ser dominados, organizados e usados com grande proveito na própria vida. Mas a conversa já vai longe, nem vou falar disso agora. Fui.

Um comentário:

  1. Você me fez lembrar da 'lavagem cerebral' a que os espectadores foram submetidos, por dias, na época do 'evento' com a menina Isabela. O fato começou a se banalizar, e eu soube de pessoas que já estavam 'brincando' com os próprios filhos de jogá-los pela janela, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. As professoras de uma escola me relataram que vários alunos chegaram assustados com medo dos próprios pais fazerem a mesma coisa. É... esses pensamentos não são brincadeira. Vá dar força a eles para ver o que acontece...

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