A descoberta de um mineral
raríssimo, capaz de produzir, de forma barata, energia térmica e mecânica na
forma de vapor, proporciona um salto tecnológico na vida de uma primitiva
civilização, dando origem a maravilhas como as “naus voadoras”. Quando esse
mineral começa a escassear, transforma-se em objeto de conflito entre duas
facções daquela civilização, numa trama política repleta de ação e
reviravoltas.
Você deve concordar comigo que essa é uma
base bem sugestiva para um bom romance steampunk, desses que proliferam e se
alastram como nuvens aquecidas de vapor no meio contemporâneo da literatura
fantástica nacional. O que você jamais adivinharia é que esse é o “plot” básico
do álbum gráfico “Turma da Mata - Muralha”, da coleção “Graphic MSP” que a
equipe de Mauricio de Sousa tem produzido com competência extraordinária,
capitaneada pelo genial Sidney Gusman.
Sim, aqueles animaizinhos antropomórficos
que viviam na Mata do Chapadão, e que você lia nos gibis da Turma da Mônica,
agora ganham uma versão revitalizada, num “antropomorfismo” e num texto direcionados
a um público mais maduro, o que é a premissa básica da coleção “Graphic MSP”. Ah,e
também é steampunk!
O texto é de Artur Fujita, os desenhos do
veteraníssimo Roger Cruz, e as cores de Davi Calil, um time afinadíssimo e
escolhido a dedo para este que passa ser, para mim, o melhor de todos os álbuns
já lançados da coleção, desbancando “Piteco”, do Shiko (bem, de todos os lançados
só me falta adquirir – e ler – um álbum, então isso é bem significativo).
Falando em “Piteco”, recordo nitidamente
de um FIQ, em Belo Horizonte, quando o Sidney Gusman me mostrou os primeiros
esboços gráficos do que viria a ser, no ano seguinte, a coleção MSP. Na época
não era mais que um projeto, mas lembro-me bem de minha reação: “Sidão, isso
VAI SER um sucesso! Isso SIM é renovação!” E a imagem que mais me marcou foi
exatamente a da graphic do Piteco. Tempos depois, quando li o álbum pronto,
ficou sendo meu preferido. Senti uma enorme gratidão ao Sidney e ao Mauricio;
eu, que cresci aprendendo a ler nas páginas de Mônica e Cebolinha, e que acabei
abandonando os títulos na medida em que envelheci, e passei a me interessar por
outro patamar de livros e quadrinhos, senti a alegria de poder voltar àqueles
velhos personagens, agora amadurecidos e adequados especialmente a mim e ao
público que, como eu, cresceu, e sentia, em algum lugar lá no fundo, alguma
saudade dos velhos amigos distantes.
A essência da Turma da Mata está lá: a
natureza doce e tímida do elefante verde Jotalhão (sem faltar a piadinha fazendo referência à
massa de tomate...), a tensão romântica entre ele e Rita Najura, recriando a
velhissíssima piada da formiguinha e do elefante que já divertia nas HQs
infantis, o gênio tecnológico do Tarugo, que agora, em vez de um casco com teto
solar e rodas, pilota um exoesqueleto de combate steam. O Coelho Caolho fica
caolho de verdade, convertido num guerreiro veterano. Mas o legal, aparte da
respeitosa manutenção dessas referências, foi que Fujita e Cruz foram capazes
de dar uma densidade bem maior aos personagens, assim como à dinâmica entre
eles.
Esse álbum, nacional da gema, reproduziu
dentro de mim o mesmo encanto que senti quando degustei a série (também de
animais antropomórficos) “Blacksad”, dos espanhóis Juan Días Canales e Juanjo
Guarnido, publicada pela francesa Dargaud, e que chegou a ter uns poucos álbuns
lançados no Brasil.
Amigo Sidão, esse merece sequência. Merece
virar série regular. Não, merece virar animação. Sei que você é um cara que
pensa grande. Pois fique aí, com mais essa minhoquinha dentro da mente. E
obrigado, mais uma vez!
Boa Noite Flávio, bem oportuno o tema. Acabei de ler Homens e Monstros. Rapaz sem querer te puxar o saco é um livro fodástico, com o perdão do termo, mas a hiperbole ilustra bem o que achei. A costura de personagens da literatura do século 19 ( como você bem descreve como inspiração para o livro no apendice ) com história alternativa ficou realmente bastante intrigante. Após o primeiro conto, onde você subverte os clichês do gênero steampunk onde as invenções mirabolantes são criadas pelos país colonizado e não no colonizador, a gente se coloca dentro daquele universo fascinante. Meu conto favorito é Mascaras ( desculpe não sou bom de memória ) com aquela fortaleza no coração da Africa soprando vapor no meio da floresta equatorial com um cientista maluco alemão e um barco voador ( teve em mim aquele impacto do ET as bicicletas voando ) o que steampunk por definição. O império Azteca é uma invenção muito inteligente, nesse sentido, eu me lembrei do construtor de sociedades e mundos imaginários Jack Vance ao mesmo tempo em que o discurso erudito das personagens e os arrombos filosóficos também me remetem ao mestre. Vou tentar escrever uma análise mais detalhada, peço a gentileza de qualquer imprecisão dita aqui, mas gostei bastante do livro.
ResponderExcluirQue legal que gostou, Daniel! Tem mais duas histórias nesse universo ficcional que devem sair em breve, em antologias: "Vingança a Vapor", que conta a história do elefante a vapor a que o agente Maucler faz referência no final da primeira história do livro, e "Os Desequilíbrios da Alma e a Vingança do Diabo", a estreia de Sherlock Holmes & Watson no universo da Guerra Fria Vitoriana. Aguarde notícias! :-)
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