sábado, 23 de abril de 2011

Animação Pra Levar a Sério

Hoje fomos, eu e a Lu, assistir a animação "Rio" (em 3D). Curioso como não havia nenhuma criança na sessão. Nem sequer um adolescente. Prova de que filmes de animação deixaram mesmo de ser exclusividade do público infantil. Na verdade, me encanta essa capacidade dos realizadores de animações no sentido de realizarem um mesmo filme que atenda a diversas faixas etárias, e diversas camadas culturais. Mostra que, para que a animação seja (como hoje já é) definitivamente levada a sério, isso tem que partir de seus realizadores. "Rio" é um excelente exemplo disso. Uma animação de primeiríssima qualidade. Bem feito. Respeitoso. Emocionante. Engraçadíssimo. Recomendadézimo.
Não é de hoje que os realizadores de animação, especialmente na dobradinha Disney/Pixar, investem pesado em algo essencial em qualquer produto cultural que se preze: pesquisa! Se você for assisti os extras contidos no DVD de "Up, Altas Aventuras" (por que brasileiro ainda tem essa mania de colocar subtítulo em filme?...), que concorreu ao Oscar de melhor filme, não perca o making of onde eles revelam o assombroso trabalho de pesquisa que fizeram em torno da ambientação, com expedições elaboradíssimas às mesetas de pedra em plena Amazônia venezuelana. No caso de "Rio" não é diferente, e não creio que nisso se deva apenas ao fato de ter um diretor brasileiro. A seriedade no respeito à inteligência do espectador parece já ter se incorporado na filosofia dos realizadores de animação para o cinema. Após me traumatizar, ainda jovem, ao assistir a animação "Alô Amigos"(1943), clássico da Disney que introduz o personagem Zé Carioca, e onde o Brasil é retratado como uma espécie de monstro híbrido entre a Bahia e o México; após me encolerizar durante o filme "Annie"(1982), quando uma personagem canta "Vocês já conhecem Buenos Aires..." enquanto desce ao fundo um painel pintado com a Baía da Guanabara; após quase infartar assistindo "007 Moonraker" ("O Foguete da Morte", olha outra pérola de tradução aí...), de 1979, onde James Bond foge de lancha pelo Rio Amazonas até despencar nas Cataratas do Iguaçu, além de brincar de gato e rato com o terrível Jaws no carnaval carioca... de rua... com outdoors em inglês... cheio de pessoas vestindo aqueles bonecos gigantes de Olinda... aaaaarrrrggghhhhhhhhh...(desculpem o desabafo)... bem, depois de todo esse sofrimento ao longo dos anos, foi com um prazer indescritível que vi, em "Rio", uma caracterização tão honesta do Rio de Janeiro para americano (e quem quiser) ver. OK, não sejamos mal-humorados. Eu sei que a Mata Atlântica restante em torno do Rio não tem mais, se é que um dia já teve, aquela exuberância em termos de fauna. Também sei que o Rio, como já disse, nem tem todo aquele carnaval de rua que o filme mostra. Mas convenhamos, essas pequenas "licenças poéticas" são perfeitamente adequadas dentro da trama, assim cmo o fato de a espécie das araras azuis ter sido reduzida a um único casal de espécimes antes da total extinção. Vejamos pelo lado positivo: a caracterização da cidade, como suas ruas, seus arredores e principalmente suas praia, é de uma exatidão mais do que satisfatória. A caracterização da favela é mais do que honesta. O desfile no Sambódromo é deliciosamente emocionante, com samba enredo e tudo. E a forma como o filme brinca com a paixão do brasileiro por futebol é uma das coisas mais deliciosas que tenho visto ultimamente na tela grande. Em resumo: vejam "Rio". Não é brincadeira de criança não.

2 comentários:

  1. Li recentemente uma crítica dizendo que faltava ao filme um antagonista forte para torná-lo ainda mais memorável. Ainda não assisti, mas pretendo fazê-lo, logo.

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  2. Discordo dessa questão do antagonista, Tibor. preste atenção em Nigel, a ave malvada mais divertida dos últimos tempos...rs*

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