quarta-feira, 25 de maio de 2011

Hoje é o Dia do Orgulho Nerd!




Taí em cima a foto, para os que gostam de estereótipos. Mesmo porque "estereótipo" é uma palavra bem nerd. Bem, para você que não conhece sobre o assunto nada além dessa imagem, é preciso saber que ser nerd costuma ser congênito; grande parte dos nerds que eu conheço, a maioria, na verdade, nasceu nerd. Daquele que, quando era adolescente e tomava uma esnobada da menina mais bonita da escola, suspirava aos céus, indagando: "por que nasci assim?" Mas nerdice também é contagiosa; conheço alguns nerds que se tornaram nerds depois de crescidos, geralmente por influência massiva ou insidiosa de algum nerd nato. Poucas coisas fazem um nerd mais feliz do que converter algum amigo ao seu calvário. Afinal, ele vive sitiado num universo todo dominado pela caretice, mesmice e falta absoluta de criatividade e imaginação. Peraí, eu disse "todo"? Não! Um pequeno universo nerd resiste bravamente ao domínio invasor!


Esse pequeno universo, seja pela proliferação de novíssimos nerds na medida em que seus pais conseguem se reproduzir em cativeiro, seja pela ação de nossa secretíssima e jamais mencionável jihad, se encontra em franca expansão. Especula-se que os primeiros perfis nerds começaram a se desenhar por volta dos anos 50, encontrando terreno fértil no boom de revistas pulp e de filmes de ficção científica ocorridos nos Estados Unidos. Nas décadas seguintes, o contraste entre essas curiosas criaturas e seus nêmesis bad boys e quarterbacks ficou cada vez mais evidente no cinema camp da América do Norte. Desde então os perfis nerds foram se multiplicando e diversificando, e a globalização permitiu sua adaptação progressiva às mais diversas culturas do mundo.


Hoje, a foto estereotípica que inicia este post, pelo menos aqui no Brasil, não define mais o padrão nerd típico. Ela está para o mundo nerd como a space opera está para a ficção científica em geral, se é que você, nerd, me entende: talvez seja a mais popular, a mais pitoresca e mais divulgada nos meios não-nerd, porém não corresponde necessariamente ao que significa ser nerd. Talvez, dentro das ramificações e mutações sofridas pelo gênero ao longo dos anos, esteja melhor definida pelo termo "geek". E geek é nerd, mas nerd não é necessariamente geek. É muito mais!


Como já deixei escapar em um ou outro ato falho no texto acima, sim, eu sou nerd. Com muito orgulho! Do tipo puro sangue, de nascença. Quando cheguei à adolescência, fase em que os hormônios em ebulição começam a dificultar a vida do nerd, o filme que eu mais havia assistido na vida (e meu preferido) se chamava "O Dia em Que a Terra Parou" (a versão inicial, não aquilo que o Keanu fez). Meu heroi incontestável e insuperável se chamava James Kirk, e cruzava a galáxia (não "as galáxias", seu não-nerd burro!) ao lado de seu amigo nerd de outro planeta, que se você quiser irritar profundamente um nerd deve chamar de "Doutor" Spock. Eu colecionei o álbum de figurinhas da Nescau sobre a conquista da Lua, e tinha um foguete que subia a uns dez metros de altura impulsionado por um jato d´água. Mas, diferentemente do que costuma acontecer com os geeks, tive o cuidado de não me alienar: tive amigos, a maioria (obviamente) não-nerds, namorei com não-nerds, e acabei casando com uma não-nerd compreensiva (porque de besta não tenho nada). Investi no estudo (coisa que nerd costuma fazer bem) e em uma profissão que me permitisse ganhar a vida, e ainda ter tempo para coisas que eu considero importantes: viver fora da profissão, ser humano e ajudar a humanidade, e cultivar meus gostos nerds. Nerds sensatos acabam sendo valorizados por suas qualidades no mundo alienígena que o cerca, geralmente relacionadas a sua inteligência, que nerd costuma ter de sobra. É que nerd é interessado em leitura, lê de tudo, até porta de banheiro público, e sua curiosidade científica não tem limites. Por isso a razão do nerd integrado ao mundo fica afiada, e ele precisa se cuidar para não ser tão polêmico quanto sua natureza incita. Mas costuma ser admirado por seus dotes mentais. Ainda assim, nerd integrado não decuida da parte sensível, e é capaz de ser uma pessoa agradável e querida entre seus pares e não-pares.


Hoje, no dia 25 de maio, é o dia em que, há 34 anos atrás, estreou no mundo a obra canônica de ficção científica nerd Star Wars. Tive o prazer de assistir esse filme em sua estreia nos cinemas brasileiros, em um cine Jacques lotado. Anos depois, um nerd chamado Douglas Adams escreveu a saga mais engraçada do universo nerd, iniciada com "O Guia do Mochileiro das Galáxias". Nesse livro, Adams escreve longamente sobre a importância, onde quer que você esteja no universo, de ter ao seu lado uma toalha. Após sua morte, fãs nerds decidiram render-lhe uma significativa homenagem, e como isso foi feito pela primeiríssima vez em um 25 de maio, hoje também é o Dia da Toalha. Ou seja, o universo parece conspirar para que essa data ganhasse um status óbvio e merecido: hoje é o Dia do Orgulho Nerd.


Aqui vai minha homenagem e meu sincero abraço a esses abnegados outsiders que bravamente se proliferam pelo mundo, indo onde nenhum grupo simpático de intelectuais jamais esteve, e que a internet tem permitido que se unam e se fortaleçam.


Outro dia, sentado em um bar com amigos, eu contava a um deles (nerd) sobre minha visita à Forbidden Planet, antro nerd de alta qualidade em Londres. Ele imediatamente me provocou: "Qual é o planeta proibido?" E sem pestanejar, eu respondi: "Talos IV!" Meu amigo deu uma das melhores gargalhadas que já vi. É assim, com uma alegria pura, que um nerd saúda a nerdice de outro, porque sabe que essa nerdice é rara, mas muito saudável.


Se você não conhece bem um nerd, precisa. Acho que vai gostar. Comece assistindo "Big Bang Theory", a melhor série nerd de TV da atualidade, e depois vá à prática. Talvez um dia você consiga entender por que odiamos os midi-chlorians. E que Han Solo atirou primeiro. E por que o melhor filme, de acordo com a maioria, é o das baleias. Se não entendeu, pergunte a um nerd.


Vida longa e próspera a você, e a todos eles!

4 comentários:

  1. lembro-me de, aos seis anos, assistir meu primeiro filme legendado junto ao meu pai: Guerra nas Estrelas. Com Han Solo atirando primeiro. Tive uma epifania! Aquilo me marcou, nunca mais consegui sair desse universo. Não que eu tenha tentado. Ser nerd é bom demais!

    abraços

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  2. Salve Flávio! Obrigado por comentar no ProtocoloNerd! Linkamos o seu post lá!

    Abs

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  3. Flávio, seu blog é excelente, me regalei aqui lendo suas boas e constantes sacadas.

    Parabéns!
    Grande abraço...

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  4. kkkkkkk... Desculpe mas eu ñ pude deixar de rir. o rapaz da foto logo a sima é meu irmão.

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