segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Caminho das Pedras [2] - A Missão























Quintessência, meu primeiro romance, serviu como um cartão de apresentação de luxo. Uma impressão de qualidade e o ISBN facilitam as coisas. Além das livrarias de BH, onde não tive dificuldades, de forma geral, para deixar o livro em consignação, vendi o livro em sites de vendas na internet, e também muitos por e-mail. Meu livro circulou de norte a sul do Brasil, desde o Maranhão até o Rio Grande do Sul, e um exemplar foi parar na Holanda. Tempos depois fiquei sabendo que um cara o incluiu em um trabalho acadêmico em Petrolina, e não faço ideia de como esse livro foi parar lá.




Participando do grupo de discussão do CLFC, pela internet, fiquei conhecendo (virtualmente) o que considero a linha de frente do fandom (leia-se "domínio dos fans") da literatura fantástica. Fiz amigos, e no começo participei de umas duas ou três brigas (podem ter sido mais, mas só me recordo daquelas de que me orgulho). Você tem que entender o seguinte: o leitor/escritor de ficção científica, em média, é intelectualmente diferenciado. Quero dizer com isso que geralmente é uma pessoa com uma característica importante: o interesse no conhecimento, seja ele de que ordem for; a curiosidade quanto ao científico, que acaba respingando para todos os lados, sejam acontecimentos da Natureza, sejam realizações humanas. Isso faz dele, muitas vezes, um cara crítico. E seu acúmulo de informação faz dele, muitas vezes também, um cara vaidoso. Ou como se diz, "de ego inflado". Novatos, quando entrei em campo, eram frequentemente tratados com desdém por alguns, com uma espécie de "bullying nerd" que, felizmente, tenho observado com menor frequência nas novas gerações. Assim, a curiosidade que meu livro gerou no fandom foi positiva para minha aceitação. Nas palavras de um amigo (outrora virtual): "Quem é esse cara, de quem ninguém ouviu falar, e que aparece do nada com um romance pronto?"




Comecei a receber as primeiras críticas, na maioria positivas, desse pessoal que aprecia a literatura fantástica, e ser aprovado por seu público-alvo é a primeira grande alegria do escritor.




Passado um tempo, Quintessência começou a sofrer o mal de toda publicação independente: a falta de distribuição. Se você não está na mídia, não vende, e não ter uma distribuidora cuidando disso é um baita problema. Uma matéria publicada na revista Carta Capital pelo crítico e escritor Antonio Luiz M. C. Costa, figura hoje bem atuante no fandom, sobre os novos autores de ficção científica nacional, e que tecia elogios ao meu livro, alavancou uma nova onda de vendas, inclusive para um político paulista, que adquiriu o livro por e-mail, por intermédio de sua secretária.




Enquanto isso, um daqueles novos amigos virtuais me informa que deverá passar uns dias a trabalho em BH, e me convida para um chope. Foi uma noite agradável com o amigo Ivo Heinz, que me atualizou sobre "o lado negro da Força", e me ajudou a causar na minha esposa Luciana uma impressão indelével sobre essa coisa aterrorizante para leigos que se chama "papo de nerd". Entre outras coisas, Ivo me sugeriu que me associasse também à lista de discussões virtuais da Intempol, que é um universo ficcional criado por Octavio Aragão e trata de uma polícia cujos agentes viajam no tempo zelando pela integridade da História, só que é uma polícia bem... brasileira, se você me entende. Aderi à lista, e expandi ainda mais meus contatos com o fandom.




Um belo dia, fui convidado por Denise Reis para participar de um programa de TV para internet sobre ficção científica, que ela produzia no Rio de Janeiro. Aceitei imediatamente, e gravamos o programa. Os convidados do dia éramos eu, o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e um especialista brasileiro em história alternativa, Gérson Lodi-Ribeiro, vejam só, aquele mesmo que me socorreu por e-mail tempos atrás, e que tive o prazer de finalmente conhecer em pessoa. Aproveitei essa mesma viagem ao Rio para conhecer outros personagens do fandom que já conhecia pela net, como Ana Cristina Rodrigues, Eduardo Torres (atual presidente do CLFC) e Max Mallmann.




É preciso que entendam que esses contatos pessoais eram fundamentais para mim, por uma simples razão: estar produzindo e lendo FC em Belo Horizonte causa uma solidão absurda na pobre alma humana. Todos os eventos e acontecimentos relevantes da literatura fantástica nacional aconteciam, naquele tempo, em 99% das vezes no Rio ou em São Paulo. Estar com essas pessoas era estar junto a uma lareira acesa em uma noite gelada. Num mundo onde esse tipo de literatura ainda é visto com muito preconceito (e preconceito, regra geral, surge do desconhecimento), o contato direto com seus pares é uma fonte valiosa de estímulos, inclusive para escrever.




Essa experiência me animou a participar também do Fantasticon, organizado por Silvio Alexandre, ainda hoje o principal evento nacional relacionado a literatura fantástica, e que acontece anualmente em São Paulo. O primeiro de que participei dividia seu espaço físico com um evento grande de RPG, repleto de cosplays, e era engraçadíssimo sair de uma mesa redonda onde houvera uma densa discussão sobre literatura e cair em no meio de uma luta de espadas entre elfos e bárbaros celtas, ou ser rendido para uma revista por uma patrulha de Stormtroopers de Star Wars. Participei de todos desde então. O evento logo se transferiu para a biblioteca Viriato Correa (SP), onde ocorrerá de 12 a 14/8 deste ano.




Enquanto tudo isso acontecia, sem que qualquer escritor delirante de ficção futurista fosse capaz de prever, o mercado nacional de literatura fantástica começava a melhorar, e novas editoras começaram a surgir dispostas a investir nesse filão, editoras com presença constante nos eventos de literatura fantástica. Mas isso é tema para um próximo episódio.




4 comentários:

  1. Aguardando o próximo episódio...
    ;-)

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  2. Estou adorando acompanhar esse blog de pertinho... Um abraço!

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  3. Grande Flávio, e desse papo já foram 6 anos....

    EU estive na tua Terra e avisei para irmos beber e falar da vida.... VOCÊ vem à Sampa passar no Consulado e quetais e faz isso de forma anônima....

    Continua me devendo, hein ???

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  4. Devo, não pago, Ivo, nego quando puder. Bom, ou quase isso. Me aguarde...rs*

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