sábado, 7 de maio de 2011

O Caminho das Pedras [3] - O Resgate









































O complexo e superinstigante relacionamento entre escritor e editor deverá merecer um tópico à parte. No momento, basta dizer que a internet veio demonstrar que, além de médico e louco, também de escritor todo mundo tem um pouco. O surgimento de sites dedicados à publicação de textos originais, na maioria das vezes curtos (crônicas e contos), eliminando as monolíticas dificuldades da publicação envolvendo editoras tradicionais em papel, fez surgir centenas de novos "escritores". Como qualquer produção massiva surgiu muita coisa de má qualidade, mais um monte de coisa razoável e promissora, e alguns novos autores a serem seriamente considerados. Constatava-se a existência de uma nova demanda literária, que desabrochava em uma tela de computador perto de você. E toda demanda acaba criando uma oferta.


A mesma internet, com a tecnologia digital, fez surgir as editoras sob demanda, investindo em tiragens menores, ditadas pela necessidade e pela capacidade de divulgação dos autores. Nessa esteira começam a surgir também as editoras que cobram do autor para publicá-lo. Pelo testemunho de alguns que recorreram a elas, admito que existem algumas que permitem ao autor conservar sua dignidade. Porém, o que mais tenho visto são aquelas que acabam "queimando o filme" do pobre sonhador, abortando o potencial de um futuro escritor com a publicação de material ruim, sem qualquer critério de qualidade; material mal amadurecido, precariamente trabalhado, tendo como critério soberano para publicação a simples troca pelo vil metal. E começam a surgir também, aproveitando inteligentemente a potencial demanda de novos autores, editoras menores com perfil tradicional, publicando em papel tiragens pequenas, porém com um criterioso trabalho de seleção e um franco diálogo com o autor. Garimpando exaustivamente em busca de autores de (bons) romances, produto ainda escasso no meio dessa nova geração, surgem no mercado miríades de coletâneas com as mais diversas propostas, aproveitando essa grande quantidade de autores de textos curtos, e não são poucos, fico feliz em admitir, os novos autores de qualidade ou de enorme potencial que tenho visto surgirem nesses livros.


Naqueles eventos literários a que fiz referência no último post, como o Fantasticon, comecei a travar contato com os responsáveis por essas últimas novas editoras, conhecendo-os e sendo conhecido por eles. Em minha experiência pessoal, tendo sido publicado em papel por quatro editoras diferentes, posso afirmar que sempre fui feliz nesse aspecto. Começaram a surgir em minha caixa postal os convites para participar de antologias fechadas, ou para enviar textos para concorrer à publicação em outras. As imagens contidas no início deste post retratam as capas das coletâneas de que já faço parte até o presente. São textos de ficção científica em alguns de seus subgêneros:




Em Paradigmas 2 (Tarja), meu conto Efeitos Adversos é uma FC que brinca com um dos recursos privativos do escritor, o de induzir a percepção do leitor atrelando-a à de um dos personagens. É um conto curto, que merece ser lido duas vezes seguidas, pois fatalmente isso será feito sob duas perspectivas distintas. Conta o drama de um cientista que começa a experimentar modificações inesperadas em seu próprio corpo, após um acidente envolvendo uma forma de radiação desconhecida.


Em Imaginários 1 (Draco), meu conto se chama Twist in my Sobriety. Totalmente inspirado pela música homônima, cantada por Tanita Tikaram, faz uma reflexão sobre a hiperexposição pessoal, tão em moda através de reality shows ou de comunidades sociais da internet. Retrata o romance entre um homem amargurado e uma cantora de bares noturnos, num mundo que se adapta à presença de uma estranha raça alienígena.


Por um Fio, conto publicado na antologia Steampunk - Histórias de um Passado Extraordinário (Tarja), é minha estreia no gênero steampunk da FC. Traz um duelo em alto mar, de recursos bélicos e de honra, entre dois personagens bastante conhecidos pelos leitores dos grandes autores da ficção científica clássica.


Na antologia Vaporpunk (Draco), de autores brasileiros e portugueses, surge minha primeira noveleta publicada: Os Primeiros Aztecas na Lua. Situa-se no mesmo universo ficcional do conto Por um Fio, que chamei de "Guerra Fria Vitoriana". Ao mesmo tempo steampunk, ficção alternativa e história alternativa (três distintos subgêneros da FC), retrata o embate entre agentes secretos a serviço do Império Britânico e do Império Francês, as duas grandes potências rivais ao final do século XIX, nesse mundo alternativo.


A antologia Assembleia Estelar - Histórias de Ficção Científica Política (Devir), é uma coletânea que traz autores de três países: Brasil, Portugal e EUA. Deste último, figuram três expoentes consagrados da FC contemporânea: Ursula K. Le Guin, Orson Scott Card e Bruce Sterling. Nesse livro tive o prazer de ver publicada minha noveleta O Grande Rio, certamente o texto curto que mais me deu trabalho em termos de pesquisa, mas do qual me orgulho muito. Um agente vindo de um mundo futuro devastado por uma guerra mundial volta no tempo até Dallas, em 1963, com uma missão de crucial importância: assassinar o presidente John Fitzgerald Kennedy.


A primeira imagem, no alto e à esquerda, é a capa da antologia Space Opera (Draco), que será lançada no próximo dia 04/06, na livraria Martins Fontes da Avenida Paulista (SP), às 15h. Minha noveleta se chama Pendão da Esperança, e conta a histórica do dramático primeiro contato entre a humanidade e uma inteligência alienígena, representadas por um monstruoso e mortal artefato e uma nave espacial... brasileira.


Além das antologias citadas, saiu pela editora Tarja meu segundo romance, Casas de Vampiro, do qual pretendo falar futuramente. Em termso de trajetória até aqui, penso que por enquanto seja o bastante. Inté.













































4 comentários:

  1. Muito legal sua participação em todas essas antologias, Flávio.
    Eu, quando comecei a escrever, era do estilo antigo, da época em que o escritor fazia um livro, depois enviava à editora, e, caso ela se interessasse e visse potencial, publicava-o. Só que, para o meu azar, o mundo não é mais o antigo, e precisei entrar nessa onda de pagar para ser publicado - por mais que todas as editoras tenham elogiado muito.
    Não sei se há escapatória disso. Eu, pelo menos, não encontrei. Agora, é divulgar, divulgar e divulgar, para nunca mais precisar pagar (rimou!).
    Em 2010 e neste ano escrevi vários contos, noveletas e duas novelas, mas não com o intuito de participar de antologias. Foram todas ideias no mundo que eu criei, que conta com duas trilogias, uma dualogia e um romance, dos quais o primeiro livro de uma trilogia já foi publicado.
    Minha única tentativa com antologias, incentivado por uma colega, foi para o projeto FC do B (parece nome de partido, rs). Um conto de ficção científica que brinca com causa-efeito e contração do universo.
    Eu, na verdade, não estou incluso no "nicho", e não sou conhecido das editoras. Pago o pato por não ter me rendido, ao longo dos últimos sete anos, à escrita fast food (no bom sentido). Tivesse eu feito um blog, publicado textos, contos no meu universo, etc, tudo hoje seria mais fácil.

    Boa sorte para você, e espero ler seus contos.

    www.osherdeirosdostitas.blogspot.com

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  2. Grande Eric! Sua situação, viv endo longe do "centro da galáxia", é parecida com a minha. Lembre-se, no primeiro post desta série, que meu primeiro romance também foi pago por mim para ser publicado. Futuramente, vou publicar algo aqui sobre a relação com as editoras que pode te interessar. Ah, e aguarde, que logo a resenha do seu livro vai estar aqui! Abraço!

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  3. Tenho todos os livros acima... Além dos seus dois romances! Viu como sou seu fã?

    Aos leitores deste blog, é recomendadíssima a leitura de "Pendão da Esperança" na antologia "Space Opera".
    ;-)

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  4. Esse é um livro que está sendo esperado ansiosamente, Hugus! Ainda voltaremos a falar dele...
    Abraço!

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