Sidney Gusman, nosso querido Sidão, é editor da Mauricio de
Sousa Produções. Foi durante o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) de
2011, se não me engano, que ele me mostrou, pela primeira vez, os teasers do novo projeto pelo qual era responsável:
a série Graphic MSP.
Lembro-me de que
na época se discutia, em alguns grupos, o real alcance da Turma da Mônica Jovem
como “renovação” da franquia, atingindo a geração que deixava a infância e a Turminha,
em busca de quadrinhos mais “maduros”. Quando vi os desenhos do Sidney,
lembro-me bem de ter sido invadido por um entusiasmo quase infantil,
especialmente com o teaser do Piteco,
e disse: “Sidão, ISSO é renovação! Vai arrebentar!” Eu adoro quando tenho
razão.
A série Graphic
MSP propõe a criação de histórias cujos personagens são exatamente os mesmos da
Turma da Mônica, porém com outra apresentação: texto mais adulto, mais ousado;
desenhos ao estilo de diferentes autores, sem um compromisso estrito com o
visual de Mônica, Cebolinha e companhia que estamos acostumados a ver, com os
quais aprendemos a ler. Até agora, a partir de outubro de 2012, foram quatro
álbuns, com apresentação gráfica impecável, edições de luxo que já se perfilam
em minha estante. Vamos colocar uma lupa sobre cada uma delas...
A primeira
publicação foi “Astronauta – Magnetar”, de Danilo Beiruth. Considero um grande
acerto a escolha desta obra para abrir a coleção, pois ela representa de
maneira eloquente tudo aquilo a que a série se propõe. As referências com
relação ao Astronauta original, com sua roupa espacial e espaçonave esféricas, são
facilmente reconhecíveis. No entanto, o texto é pura ficção científica, leitura
adulta, densa. Para os especialistas em FC: enquanto o Astronauta original se
presta bem a uma “space opera”, o Astronauta de “Magnetar” é FC “hard”. Já está
prometida uma continuação.
Seguiu-se “Laços”,
dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. Nunca me canso de dizer o quanto sou fã desses
meninos desde que conheci “Valente”, uma das séries em quadrinhos mais
deliciosas que tenho lido há anos. Em “Laços” os autores conseguem transmitir a
mesma poesia, a mesma sensibilidade e a mesma relevância em termos de relacionamento
humano que derramam das páginas de sua série própria, e as conexões (ou “laços”)
com a série original de Mauricio de Sousa são tanto abundantes quanto adequadas.
O terceiro volume
da série foi “Chico Bento – Pavor Espaciar”, de Gustavo Duarte. História
divertidíssima, trazendo como bônus uma cena antológica do Jotalhão crucificado
que me remeteu à Estátua da Liberdade no final de “Planeta dos Macacos”. O
ritmo peculiar dos desenhos, onde uma vez uma página inteira (ou mais) é usada
para mostrar um personagem simplesmente se esgueirando por um corredor, poderia
ser interpretada por alguém menos avisado como “encheção de linguiça”.
Entretanto, confere um ritmo de desenho animado absolutamente compatível (e
catalisador) com o humor do texto. Um senão: apesar de ser uma publicação
admirável em termos artísticos, é a que menos se adéqua, a meu ver, ao “espírito”
da série. A história, com pouca modificação, poderia ser adaptada para o
formato (texto e desenhos) do Chico Bento original. Sobrou qualidade, mas
faltou um pouco de ousadia.
Finalmente, temos “Piteco
– Ingá”, do artista Shiko. O que dizer? Nós, leitores de literatura fantástica,
estamos constantemente em busca, como garimpeiros incansáveis em páginas de
textos e/ou desenhos, do chamado “sense
of wonder”. Aquele encantamento que nos eleva, nos arrebata do mundo real e
nos mergulha num universo estranho que acolhemos, e do qual nos alimentamos com
prazer inigualável. “Ingá” é puro “sense
of wonder”. Referências sólidas à série de Mauricio de Sousa, ação
empolgante, inclusão de elementos interessantíssimos da mitologia de diferentes
culturas, e um alicerce sólido (e muitíssimo bem sacado) sobre a misteriosa Pedra
do Ingá, localizada no sertão da Paraíba.
A boa notícia é
que já estão previstos, ao que parece, mais seis álbuns da coleção, explorando
personagens menos conhecidos da mitologia mauriciana, como Papa-Capim e a Turma
da Mata.
Não conheço
eventuais pretensões de Sidão & Mauricio no sentido de levarem essa coleção
para o âmbito internacional. Mas que merece, merece, e muito. Eu sugeriria,
como “cartões de visitas” para o público gringo (europeu ou norte-americano), a
utilização de “Laços” e “Piteco”. Enquanto “Chico Bento” foge um pouco da
proposta (r)evolucionária da coleção, “Magnetar” é ficção científica para a
mente, explorando um elemento pouco conhecido até pelos próprios especialistas
em FC. Essa “racionalidade”, a meu ver, coloca em perigo a manutenção do “pique”
da série em sua continuidade. Já as duas primeiras edições sugeridas trazem
alimento para o racional e para o emocional em doses certas, bem ao gosto do
leitor lá de fora. Tenho acompanhado os rumos da literatura fantástica norte-americana,
e detecto um “apetite” não satisfeito por histórias diferentes, de culturas não
familiares à deles. Para isso, a coleção Graphic MSP me parece um prato cheio.
Jogo essa peteca, com todo meu entusiasmo, para a dupla Mauricio e Sidão. Para
o alto, e avante!
astronauta ja foi publicado em uns 4 países na Europa com ótimas criticas laços sai esse ano também no velho continente, como o sidão falo as graphics foram pensadas para publicação internacional
ResponderExcluirSim, o Sidão me contou, depois que publiquei aqui. Sinal que meu faro é bom. ;-)
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